Da sátira ao imaginário popular, Coronel Ludugero é imortalizado em Caruaru

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Coronel Ludugero (dir.) ao lado do fiel escudeiro, Otrope (Foto: Acervo/Walmiré Dimeron)


Coronel Ludugero (dir.) ao lado do fiel escudeiro, Otrope (Foto: Acervo/Walmiré Dimeron)

Era com uma arma na cintura e um discurso direto que o caruaruense Luiz Jacinto da Silva se apresentava como o Coronel Ludugero. O personagem era uma sátira aos coronéis nordestinos e fez sucesso no rádio durante os anos 60 em Caruaru, no Agreste de Pernambuco.

Nascido no bairro São Francisco, em setembro de 1929, o humorista chegou a trabalhar ajudando o pai a fazer celas de cavalo e em uma padaria, até exercer a função de entregador de telegramas para os Correios. O destino de Jacinto mudou quando ele chamou a atenção de José Almeida e Onildo Almeida, que tinham um programa na extinta Rádio Difusora.

"Zé Almeida vez por outra colocava 'Ludugero' para contar piada. Era muito engraçado. Isso foi crescendo na opinião pública. O povo gostou e ele se tornou um personagem indispensável no programa", disse o cantor e compositor Onildo Almeida, de 89 anos.

As histórias que o coronel contava divertia multidões e logo ele começou a se apresentar com uma grupo de humoristas. Com a trupe, ele fez shows de comédia em Caruaru e em outras cidades e estados do Nordeste. De maneira rápida, ele ganhou todo o país e chegou a trabalhar na extinta TV Tupi e na TV Globo.

Caruaruense, Luiz Jacinto levou o nome do município para todo o país (Foto: Acervo/Walmiré Dimeron)

"Ludugero, pela sua desenvoltura, humor picaresco e também debochado, só encontrou páreo no caipira vivido por Mazaroppi no cinema. Na época, o Brasil brejeiro estava na moda, basta lembrar o furor que a estonteante Carmen Miranda fizera anos antes nos palcos e cinemas de todo o mundo", destaca o historiador e presidente do Instituto Histórico de Caruaru, Walmiré Dimeron.

Apesar de ser a atração principal das apresentações, o coronel dividia o sucesso com outros personagens como a esposa dele, Felomena, a filha Trubana e o secretário especial, Otrope, que era interpretado por Irandir Peres Costa. As situações vividas pelo grupo ocorriam em uma fazenda.

"Luiz Jacinto e Irandir Peres Costa, ou Ludugero e Otrope, conquistaram de forma perene um lugar de destaque no imaginário popular. São dois ícones de Caruaru e geniais artistas populares, que com seus quadros inesquecíveis, projetaram sua terra no Brasil inteiro", completa Walmiré.
Corpo de Luiz Jacinto em cortejo (Foto: Acervo/Walmiré Dimeron)

Tragédia interrompeu a carreira do 'Coronel'

Em uma turnê de shows de humor, em 14 de março de 1970, Jacinto foi vítima de uma tragédia. O avião que levava ele e a trupe caiu no Pará e todos morreram. A queda deixou a aeronave nas águas escuras da Baía de Guajará-mirim.


O corpo de Jacinto só foi localizado no dia 30 de março. De acordo com o historiado, até hoje se fala que o cortejo fúnebre do Coronel Ludugero foi o maior realizado na cidade.


Primo segue passos na cultura popular
Nelson Lima é poeta e primo em segundo grar de Luiz Jacinto. Ao G1, ele conta que assistiu a um show do Coronel Ludugero e revela de como se recorda do primo. "Ele sempre foi muito cuidadoso com a família", lembra.


O contato de Nelson com Jacinto foi pouco, já que o poeta tinha entre 11 e 12 anos quando o humorista morreu. Mesmo assim, ele se inspirou no primo para seguir a carreira artística ainda na adolescência, quando criou o personagem Coronel Lundruguinha.


Nelson Lima caracterizado de Coronel Lundruguinha (Foto: Nelson Lima/Arquivo Pessoal)
"Manter a tradição artística da família, que começou com 'Ludugero', me deixa muito lisonjeado. Em uma festa da família, quando eu tinha 14 anos, me organizei com um grupo para fazer apresentações culturais. Eu sempre ficava com a parte de humor. Foi quando eu criei o Lundruguinha. Meu irmão fazia o Otrope", detalha.


Em homenagem a Luiz Jacinto, Nelson produziu um cordel contando a história do primo. A obra será lançada ainda neste ano.


Nelson Lima atualmente é poeta e cordelista (Foto: Joalline Nascimento/G1)



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